BRIEFING MATINAL

Por Vladimir Lima

 

  • Em sua reunião de quinta-feira, o Banco Central optou, pela manutenção da Selic em 6,5% ao ano, após quase 1 ano nestes patamares. Em seu comunicado, porém, diferentemente do previsto por um número crescente de analistas, a instituição não sinalizou uma postura mais leniente. Ou seja, avaliou  que os riscos para a inflação, apesar de diminuírem, continuam pendendo para cima. Dada essa “assimetria” de riscos, reforçou o posicionamento levantado em seu Relatório de Inflação, de que é preciso, nestes momentos de incerteza e volatilidade, agir com “cautela, serenidade e perseverança”. Traduzindo, poderia ser precipitado assumir que, estando a inflação baixa, ela já está debelada de forma permanente. É necessário aguardar a concretização de certas mudanças estruturais domésticas e observar o quadro internacional.

  • Finalmente a bolsa brasileira passou por um dia de forte queda na última quarta-feira, depois de algumas semanas de alta intensa. O Ibovespa caiu 3,74%, vindo abaixo dos 95 mil pontos. Como gatilho para tanto estiveram notícias menos animadoras, primordialmente em relação à velocidade de tramitação da reforma da previdência. Foi ventilado que a mesma não deveria pegar carona no projeto já em tramitação de Michel Temer. Para nós, no entanto, não mudou o pano de fundo na leitura de cenário. Enxergávamos que alguma dúvida surgiria em torno das reformas após um fluxo extraordinário de notícias em janeiro,  que foi acompanhado de ganhos muito expressivos do mercado acionário. Desculpas para uma realização de lucros pareciam algo à espreita, e seria ingenuidade acreditar que tudo seria tão fluido na evolução da previdência.

  • Cabe raciocínio semelhante no mercado externo, no sentido de que a bolsa norte-americana, mas não somente ela, também estaria prestes a sofrer algum tipo de revés depois de semanas de recuperação intensa.  Isso não vale apenas para a renda variável desenvolvida, mas para os emergentes e outros setores, como o universo de renda fixa internacional. Foram registrados ganhos importantes nas aplicações em títulos de crédito (corporate e sovereign Bonds) em várias regiões. Se e quando todos estes mercados sofrerem alguma realização, isso igualmente tenderia a limitar nosso desempenho no Brasil.

  • As discussões sobre a reforma da previdência começam a ganhar contornos mais complicados após uma sequência de novidades positivas. Agora surgem os entraves políticos e são vistas a limitações impostas pela realidade do Congresso. A minuta vazada recentemente serviu como balão de ensaio para testar a reação de classes corporativistas e da opinião pública, o que ajuda a dimensionar de maneira mais precisa a estratégia para a sua aprovação. É bom lembrar que reforma verdadeiramente ruim é aquela que nunca sai do papel e a reforma perfeita nunca será aprovada. Então, é preciso chegar no meio do caminho. Paulo Guedes, ministro da economia, quer que o governo poupe 1 trilhão de reais com as mudanças nas regras previdenciárias. Para tanto, incluiu em seu projeto a idade mínima de 65 anos tanto para homens como mulheres. Não obstante, já temos aí um primeiro ponto de debate. Aparentemente Jair Bolsonaro quer algo menor para o sexo feminino, o que é compreensível. Essa equação terá solução de alguma forma intermediária. Cabe agora acompanhar o debate e os bastidores das negociações.

  • Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, comentou temas importantes ontem em entrevista concedida a uma emissora de televisão. Ponderou a necessidade de amplo debate sobre a reforma da previdência nas comissões e, portanto, a adoção de uma nova PEC (Proposta de Emenda Constitucional). Disse que o trabalho mais árduo é garantir a base de apoio, pois então se pode ter mais celeridade nos processos regimentares. Manteve que é possível ambicionar a primeira etapa de votação na Câmara já em maio. Outro aspecto levantado por Maia é que a pauta das medidas anticorrupção e de segurança propostas por Sérgio Moro deveriam ter tempo mais dilatado. A ideia é  que não podem absorver tanta energia do governo e parlamentares neste primeiro momento em que o foco deve ser a previdência.